Cidades que abriram mão, voltam atrás e pedem retorno do cobrador

Usuários do transporte coletivo de diversas cidades reclamam da ausência do profissional e pedem a sua volta; eles foram atendidos

Algumas cidades do Brasil abriram mão da presença dos cobradores, o profissional que realiza dezena de funções dentro do transporte coletivo. Como consequência, os principais afetados são os usuários, os quais pediram a volta do profissional e foram atendidos. É o caso do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Cuiabá, conforme informações apuradas pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc).

Vale ressaltar que estes são apenas três dos inúmeros municípios que perderam em qualidade de atendimento. Isso é reflexo da ausência do cobrador, que não só cobra as passagens, mas auxilia o motorista em diversas funções, como por exemplo: no monitoramento do embarque e desembarque, na prestação de informações aos usuários e turistas, no atendimento aos cadeirantes e as pessoas portadoras de alguma deficiência.

RIO DE JANEIRO
Na cidade do Rio de Janeiro, foi sancionada a Lei 6.304/2017 que exige a volta dos cobradores em toda a linha do transporte coletivo. Em seguida, foi aberta uma ação do Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus) para a suspensão da decisão, mas essa foi negada pela juíza Neusa Regina Larsen, em agosto do ano passado.

Durante o período da ação, foi concedida uma liminar para que a prefeitura não punisse as empresas até o julgamento dela. Agora, esta já perdeu os efeitos. “Foi sancionado, mas não foi dado o decreto sobre, estamos aguardando”, informou o Secretário-Geral do Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Urbano do Rio (Sintraturb-Rio), Antonio Bustamante.

Segundo o sindicato, o número de profissionais foi reduzido em 90%. O Sintraturb-Rio pede que os cobradores demitidos tenham preferência nas contratações, já que muitos não conseguiram se realocar no mercado. Resta agora à Prefeitura regulamentar o texto, definindo um prazo para que ocorra a volta dos cobradores aos ônibus.

“A falta de cobrador é extremamente prejudicial não só aos motoristas, mas aos passageiros. A minha visão como passageiro é que, quando não se atrasa ainda mais a partida do ônibus, se tem o risco de acidente. Além da função dupla que é extremamente irresponsável, seria de bom serviço para a população a volta dos cobradores”, desabafa o estudante Marcos Vinicius, de 25 anos, em entrevista ao Sindimoc; ele utiliza as linhas 711, 239, 607, 110 e 112.

BELO HORIZONTE
A capital de Minas Gerais também sofre atualmente com a ausência do cobrador, ainda que de forma irregular, onde as empresas abriram mão do cobrador, mesmo diante da Lei 8.224/2001 que estabelece a obrigatoriedade da presença dos cobradores nos veículos do serviço de transporte coletivo por ônibus da cidade.

A população sentiu a queda na qualidade do atendimento, realizando inúmeras denúncias da falta do profissional. O desconforto chegou na Câmara dos Vereadores, na Prefeitura e na Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), que debatem formas de intensificar a fiscalização e as punições para as empresas que estão descumprindo o decreto.

“O transporte público já não é de uma boa qualidade, sem o trocador, a situação só piorou. Motoristas, além de dirigir, precisam cobrar passagem, ajudar pessoas com deficiência, isso causa um grande tumulto e atraso nas viagens. Quando o horário é de grande movimentação, a situação é um caos maior. Quando se tem o cobrador dentro do ônibus, a segurança é maior”, relata a publicitária Marina Teodoro, de 23 anos, que utiliza as linhas 3052 e 3053.

CUIABÁ
Na capital de Mato Grosso, os problemas causados pela extinção dos cobradores começaram a aparecer em 2012, quando a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor recebeu diversas reclamações dos usuários do transporte coletivo referente aos atrasos frequentes dos horários dos ônibus e a dificuldade em recarregar os cartões transporte.

A dupla função dos motoristas de ônibus, que abriu brecha para o acumulo de obrigações e para o estresse rotineiro, passou a ser questionado pela Câmara Municipal de Cuiabá em 2013, quando aprovou um projeto que proibia a prática. Ainda assim, no final de 2014 uma lei que permitia os motoristas a comercializarem o cartão transporte foi aprovada.

Em 2015, o prefeito Mauro Mendes enviou à Câmara dos Vereadores um projeto em regime de urgência para que não existisse a dupla função dos motoristas, ele conseguiu o apoio unanime dos vereadores, decretando a volta dos cobradores aos ônibus do transporte coletivo da capital.

A qualidade de atendimento voltou a melhorar e, em pesquisa realizada em 2018, 72,91% dos usuários aprovaram o transporte na capital, segundo A Pesquisa de Opinião da empresa Consulting do Brasil. Demonstrando que sim, o serviço do trocador é essencial para a população.

O Sindimoc relata casos das outras capitais do Brasil na esperança de conscientizar a população dos efeitos danosos ao transporte coletivo de Curitiba, caso o projeto de lei que extingue os cobradores seja aprovado. Trabalhamos pela melhoria do transporte coletivo na nossa capital e não aceitaremos nenhum retrocesso no sistema ou nos direitos dos trabalhadores.