Nota da CUT-PR sobre a mobilização dos trabalhadores do transporte coletivo e seus desdobramentos

A Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), como não poderia ser diferente, torna pública a sua solidariedade ao movimento de greve deflagrado pelos motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba e que terminou nesta quarta-feira (15) com o reajuste acertado de 10,5% além de benefícios negociados.

A proposta patronal, apresentada aos trabalhadores, era uma afronta a quem diariamente faz esta cidade andar e que, muitas vezes, não têm o menor reconhecimento da sua importância, fato que só torna-se sensível em um movimento como este.

Com o fim do movimento grevista e o acerto do reajuste, mais do que merecido, à categoria dos motoristas e cobradores de ônibus, é preciso iniciar outro debate imediatamente.

Como o restante dos trabalhadores são inseridos neste contexto? Em primeiro plano, é preciso registrar de forma categórica que não é possível aceitar qualquer desconto salarial em virtude de faltas nos dois dias em que a greve prejudicou o translado de milhares de trabalhadores. Assim como não pode-se deixar de questionar a desoneração tributária ao diesel, aprovada sem discussão e que incide diretamente no transporte coletivo.

Também é preciso discutir as alternativas de transporte para uma capital que julga-se modelo nesta área. Ora, como considerar exemplo para o País uma cidade que não possuí ciclovias adequadas e nem em número suficiente? Onde não há outras alternativas como as lotações, exemplificadas Porto Alegre ou ainda outros modals que possam servir de escape neste tipo de situação?

Esta, na avaliação da direção da CUT-PR, foi uma greve atípica. Basta relembrarmos as últimas greves desta categoria na cidade, quando ônibus eram escoltados pela polícia e existia grande insatisfação da administração municipal e dos empresários.

Louva-se, aqui, o direito à greve e o respeito aos princípios que delegam aos trabalhadores e sua representatividade utilizarem os instrumentos legais para lutarem por melhores salários e condições de trabalho.

Mas o que não é possível no final das contas, é tomar um movimento legítimo como este como uma desculpa conveniente para o aumento da tarifa aos usuários, em sua maioria trabalhadores, que custeiam com impostos e pagamento de passagens a administração pública e as empresas cujas concessões até hoje são chamadas de caixa-preta da Urbs.

Despir um santo, para vestir o outro, poderia ser entendido como um sério problema e levar setores da sociedade a acreditarem em um conluio de que todo o movimento, e o aparente respeito à sua legitimidade por parte do poder público municipal, não passem de jogo de cena para justificar um possível aumento da tarifa. Por isso é preciso reiterar que não é possível aceitar passivamente uma ampliação na tarifa, o que sob todas as perspectivas, seria uma derrota inoxerável para todos os trabalhadores, independente de sua esfera e categoria.

Isto posto, a direção da CUT-PR reitera a avaliação exposta na nota acima, bem como sua solidariedade aos trabalhadores e ao movimento, externando sua preocupação apenas com a condução de todo o processo, para que no fim a vitória dos trabalhadores desta categoria não seja também a derrota de milhares de outros trabalhadores e, ainda pior, desprestigiada com a população, pois desta forma, perdem não apenas os motoristas de ônibus e cobradores, mas também a cidadania que tem no movimento de greve um instrumento legítimo de pressão dos trabalhadores.


Direção da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR)

Curitiba, 15 de fevereiro de 2012