A violência no transporte público que aterroriza trabalhadores e usuários de Curitiba e região metropolitana

Quem depende do transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana sabe que está exposto à violência. Além do medo de assaltos, motoristas, cobradores e passageiros convivem com a apreensão de serem vítimas da violência, muitas vezes gratuita, de assaltantes.

O transporte público de Curitiba e região é reconhecido nacionalmente por sua infraestrutura. Contudo, a violência tem sido o maior destaque do sistema que já registrou 276 assaltos entre janeiro e fevereiro desse ano, uma média de 4,3 por dia, em uma estrutura dita exemplar. No ano passado os casos de assaltos ao transporte coletivo de Curitiba registravam, até setembro, uma média de sete casos diários. Foram quase 3mil casos. De todo o sistema de transporte da cidade, o local mais visado pelos assaltantes é a estação-tubo Coronel Luiz José dos Santos (sentido bairro), no Boqueirão. O segundo colocado fica do outro lado da rua, a estação espelho do primeiro colocado.

Estatísticas do Setransp (entidade patronal) e Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), empresa de economia mista responsável pela gestão do transporte na região, apontam 8,21 assaltos por dia e 2.995 em todo o ano de 2015, contra trabalhadores e usuários do transporte coletivo. O Sindimoc estima, entretanto, que o número real seja bem maior, considerando que muitos casos sequer chegam ao conhecimento das autoridades, não entrando nos dados oficiais.

 

Violência está sem controle na Região Metropolitana

Paralisação em Colombo é retrato da indignação de motoristas e cobradoresEm apenas uma semana, foram registrados mais de 30 assaltos no transporte coletivo da cidade de Colombo, na região metropolitana de Curitiba. Os criminosos agem sempre em bando e costumam agredir os trabalhadores. E é por conta dessa onda de violência, no começo do mês houve uma paralisação dos motoristas e cobradores dos ônibus que circulam em Colombo e de Colombo para Curitiba. A circulação dos ônibus das empresas Santo Antônio e Colombo ficou interrompida por cerca de duas horas. Nos trechos atendidos por estas duas empresas a média de assaltos chega a 11 por dia. O protesto afetou a circulação de 47 linhas, 14 da Colombo e 33 da Santo Antônio. A manifestação teve a participação de cerca de 600 motoristas e cobradores.

 

 

“O cobrador hoje não sabe... não sabe se volta pra casa. Ele sai de casa e não sabe se volta e todos nós sabemos disso. Os rapazes chagam lá no ônibus e querem o dinheiro de qualquer maneira. E nós vamos fazer o que? Reagir?”

Cobrador anônimo que participou da paralisação

 

Facão usado pelos marginais era de grande porte. (Foto: Danaê Bubalo – Banda B).E foi abusando da sorte que um cobrador da estação tubo Coronel Dulcídio, no bairro Batel, em Curitiba, reagiu e conseguiu deter dois assaltantes em junho do ano passado. Os dois homens foram presos acusados de assaltarem a estação-tubo Coronel Dulcídio usando um facão de grande porte. A ação dos suspeitos aconteceu no momento em que o cobrador descuidou do local e um deles conseguiu entrar pela porta de embarque.

Os dois bandidos deram voz de assalto e pediram todo o dinheiro do caixa. O cobrador da estação, que teve a identidade preservada, pegou um porrete que usa para a própria segurança e foi atrás dos marginais.

 “Hoje chegaram os rapazes e eu fui atrás para pegar meus documentos e a polícia foi junto comigo, até quando conseguimos abordá-los”, descreveu o cobrador, que revelou em 17 anos de carreira já ter sido assaltado onze vezes.

 A equipe da Polícia Militar (PM) que patrulhava a região conseguiu prender em flagrante os suspeitos. Os dois foram encaminhados até o Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac-Sul).

 

O que fazer após o assalto?

A medida que cada empresa toma após os assaltos é totalmente particular e depende da política adotada por cada instituição. O que sabemos é que a maioria das empresas exigem que, após uma ocorrência, o ônibus continue seguindo o itinerário, dificultando o registro do Boletim de Ocorrência e o socorro do Departamento de Apoio ao Trabalhador do Sindimoc.

O Sindimoc indica para os trabalhadores que após a ocorrência, siga as exigências da empresa e registre o Boletim de Ocorrência, caso o ônibus fique imobilizado, o trabalhador pode chamar o Departamento de Apoio ao Trabalhador (DAT), que tem como missão cuidar da vida e da segurança dos motoristas e cobradores em situações de risco, no exercício da função. Casos como acidentes e assaltos. Nesses casos, uma equipe do DAT vai até o local tomar as medidas necessárias e fazer todo o acompanhamento.

O Sindimoc não tem o poder policial e não tem o poder de influenciar na estrutura de segurança diretamente. Mas, o Sindicato dá o total apoio ao trabalhador que sofreu traumas, luta ao lado e pelos motoristas e cobradores e está, junto ao Poder Público e ao sindicato patronal, lutando por políticas que aumentem a segurança dos trabalhadores, que nos últimos anos têm sido reféns da violência.

 

Recomendação das autoridades

A Polícia Militar de Pinhais nos explica, em sua página do Facebook, que casos de assaltos, ameaças, violência física e furtos são crimes que merecem punição. Para isso, é necessário que a pessoa registre um boletim de ocorrência, pois isso ajuda as vítimas e a toda comunidade.

Algumas pessoas acabam não registrando essas ocorrências ou denúncias, mas é muito importante que essa atitude seja tomada. Os motivos que impedem a população de registrar os crimes na polícia são diversos, como por exemplo, o medo de represália ou quando o criminoso é parente ou amigo próximo, além de casos não tão graves e ameaças. 

Em casos de ataques constantes na mesma região, os B.O.’s alertam a polícia sobre a importância de foco na vistoria dos locais, que podem ser reforçados se forem denunciados. Também conhecido como “BO”, é o documento que registra a notícia do crime. O Boletim de Ocorrência é o ato que dá inicio apuração de um crime cometido e é o que fornece dados para estatísticas ao poder público.

É muito importante que nós registremos qualquer tipo de ocorrência, fornecendo o maior número de informações possíveis para o poder público traçar um perfil da criminalidade além de podermos cobrar atitudes da polícia dentro de fatos ocorridos e não de supostos boatos de insegurança.

Caso você não possa comparecer a uma delegacia você pode registrar um Boletim de Ocorrência Eletrônico pelo site http://www.delegaciaeletronica.pr.gov.br/

 

Nota da Polícia Militar

O 1º Comando Regional da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na capital, informa que os policiais militares realizam um trabalho diário junto às estações tubos e linhas de ônibus em toda Curitiba para coibir furtos e roubos e crimes contra o patrimônio. O trabalho é feito principalmente na região Central da Capital, onde a incidência de crimes tem sido maior, mas com extensão aos bairros também.

O trabalho conta com apoio e parceria da Guarda Municipal de Curitiba. Somente nos últimos meses dezenas de pessoas (entre adultos e adolescentes) foram encaminhadas pela Polícia Militar para as delegacias por alguma atividade ilegal nestes ambientes.

Diversos objetos como pequenas facas, tesouras e cachimbos para fumar drogas foram apreendidos com algumas das pessoas encaminhadas e até arma de fogo já foi localizada.

Neste sentido, nas últimas semanas, o 12º, 13º, 20º e 23º batalhões da PM, pertencentes ao 1º Comando Regional, realizaram e estão realizando diversas operações de combate aos furtos e roubos no interior dos ônibus, além de combater crimes contra o patrimônio. As ações consistem em patrulhamento fardado nas imediações de terminais, estações tubos e linhas de ônibus e, com ajuda do Serviço Reservado, abordagens nos ônibus quando necessário.

Na RMC, no que compete à PM, o patrulhamento também é feito pelos 17º e 22º batalhões, pertencentes ao 6º Comando Regional (6º CRPM) nos mesmos moldes que na capital. Prisões e apreensões são feitas.

A PM também informa que em dias de jogos, por exemplo, o policiamento nestas regiões é reforçado com policiamento fardado, bem como em época de recebimento de salários e diariamente em horários de pico. Em todos os locais, as ações policiais continuarão sendo feitas diariamente pela corporação para coibir furtos e roubos e crimes contra o patrimônio. Outras ações para melhoria da Segurança Pública nestes ambientes estão sendo estudadas.

 

O que o Sindimoc tem a dizer sobre a insegurança?

A respeito da onda de assaltos no transporte coletivo, que vem vitimando usuários e trabalhadores do sistema, o Sindimoc vem a público ressaltar a importância de mais investimentos em segurança pública. Mas só isso não basta. Ressaltamos também a urgente a necessidade de políticas públicas voltadas ao fortalecimento das famílias. Nações desenvolvidas, como a Alemanha, por exemplo, tratam esse tema como estratégia de gestão do estado, tendo, inclusive, um Ministério da Família. É na família que se aprende a diferença entre o certo e o errado, onde se forma o caráter das pessoas.

Pesquisas recentes indicam que nações com famílias bem estruturadas têm índices bem menores de violência e criminalidade, menores índices de uso de drogas e alcoolismo e melhor desempenho em uma série de outros indicadores sociais. Cabe a nós, lideranças sociais, gestores públicos e formadores de opinião, olhar a questão da segurança pública sob novas perspectivas e apontar nortes que efetivamente apontem para uma solução definitiva ao problema.

O Sindicato luta por conscientização

Protesto foi realizado às 15h00 na Praça Rui Barbosa e nos terminais Pinheirinho e CabralEm novembro do ano passado aconteceu um protesto dos motoristas e cobradores de Curitiba e Região Metropolitana contra a violência no transporte coletivo. O principal ato aconteceu na Praça Rui Barbosa, às 15h00. Também ocorreram entregas de materiais de conscientização nos terminais Cabral e Pinheirinho.

Há muito tempo os motoristas e cobradores sofrem com a violência no dia a dia de trabalho. E o Sindimoc sempre luta, ao lado do trabalhador, por mais segurança e por mudanças.

As medidas de segurança não devem partir apenas do Poder Público, ou somente das empresas ou dos trabalhadores. Mas sim, de um trabalho conjunto contra uma situação que prejudica a todos.

 

Relato dos trabalhadores

“Levei um tiro no pé e não levei mais porque acabou a bala do assaltante”

Cobradora

“Nós saímos do terminal, na minha última viagem do dia, num domingo. Ele entrou, colocou o revólver nas costas de um passageiro e anunciou o assalto. Mandou fechar todas as portas e o ônibus ficou parado. Então ele se deparou com um policial que estava de pé dentro do ônibus. Os dois trocaram tiros, mas não se acertaram e todo mundo se jogou pro chão. O bandido também se deitou, enquanto eu ainda estava na minha cadeira. Ele falou para eu não olhar para ele e me deu um tiro no pé. Depois levantou e foi me dar outro tiro, mas acho que não tinha mais bala. Então ele saiu correndo sem conseguir levar o dinheiro. Eu não conseguia falar, nem sair da cadeira. Me levaram direto pro hospital. Até hoje, todo dia que trabalho, fico pensando “será que esse vai assaltar? ”, quando os passageiros entram. Já aconteceu há dois anos e ainda tenho dificuldade para caminhar”.

“Fui espancado por menores que invadem ônibus todos os dias”

Motorista

“Há tempos que um grupo de adolescentes invadem os biarticulados. Uns dias antes tinham tentado agredir uma cobradora e eu não deixei. Depois disso começaram a pegar ônibus comigo e ficavam fazendo baderna, gritando e xingando. Um dia abri a porta e fui falar com eles. Aí vieram me agredir. Eram pelo menos uns cinco. Me seguraram e deram soco. Continuam todo dia nos terminais, fazendo bagunça. Está sendo muito frequente assaltos e arrastões dentro dos biarticulados. Vários companheiros já tiveram revólver na cabeça e limparam seu ônibus”.

“Tentei impedir que acertasse minha barriga e levei uma facada na mão”

Motorista

“Entraram três passageiros e eu vi que um deles, o que estava de costas pra mim, estava demorando muito para passar a catraca. Quando eu parei para prestar atenção eu vi que ele estava mexendo na caixa da cobradora. Ele pegou todo o dinheiro e queria sair do ônibus o mais rápido possível. Ele estava muito nervoso e começou a gritar e a me xingar, mostrou a faca e os passageiros ficaram desesperados. Ele queria que eu abrisse a porta, mas o ônibus quando está em movimento não permite. Eu levantei para falar com ele e ele tentou me golpear. Eu tentei impedir que acertasse minha barriga, mas acabou rasgando a minha mão, então eu abri a porta e ele saiu correndo desesperado.”

“Já sofri cinco assaltos e em todos estavam armados”

Cobrador

“Eu trabalhei de manhã e à noite naquele dia. O rapaz chegou por volta das 10 da noite, pegou o meu crachá e fechou o validador, porque ele sabia que tinha muito dinheiro ali. Por isso até acham que é ex-funcionário da empresa. Ele estava armado, mandou eu levantar os braços e disse que se eu me mexesse ele ia me furar. A gente fica ali sentado na estação sem poder se defender, sem poder fazer nada. Ei já sofri cinco assaltos e não teve um em que o cara não estivesse armado.”

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